sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Estratégia certa no local errado




Em Joinville, como no resto do Brasil, está fazendo um calor infernal. Precisei dormir a noite toda com o ar-condicionado ligado. Em conseqüência disso acordei com uma baita dor de cabeça e pra completar: cólica.
Tomei remédio e fiquei deitada esperando a dor diminuir. Quando já era suportável eu levantei, tomei banho, me arrumei e fui trabalhar já atrasada!
O transito já não estava intenso devido ao horário. Virei a esquina em um lugar que costuma ser movimentado e vi a avenida inteiramente livre com o sinal verde. Acelerei o que pude pra conseguir passar mas, não deu. Então fiquei parada esperando abrir o sinal novamente.

Aproveitei o pequeno instante para pensar sobre a vida: casa, trabalho, estudo, essas coisas. Pensar sobre possibilidades, quais atitudes tomar, qual seria a melhor iniciativa, pensamentos perdidos no sossego do meu carro.

Foi então que uma senhora se aproximou para vender jornal. Nesse lugar sempre ficam algumas senhoras vendendo jornal. Hoje eu notei que era uma diferente, provavelmente estava começando nesta manhã. Ela chegou, cumprimentou, falou alguma frase educada que não prestei atenção pois estava mergulhada nos meus pensamentos. Fiz que não com a cabeça (não queria o jornal) e agradeci. É agora que acontece a coisa estranha. Seria engraçado se não fosse meu mau-humor. Ela começou a ler todas as chamadas da primeira página pra mim. E esqueci de contar o detalhe que ela me abordou pela janela do passageiro, então eu tinha que ficar me esticando pra tentar ser educada, olhar pra ela e dizer que não estava interessada no jornal. Ela lia e dizia "Isso não te interessa?... olha só.. que coisa, não é?!"
Bem, se eu estivesse em uma praça com tempo de sobra e ela estivesse lendo uma poesia na tentativa de vender um livro, tudo bem! Mas, WTF! Querer ler o jornal pra mim no meio do transito. Tudo o que eu queria é que ela fosse oferecer para outro motorista pra eu poder voltar pros meus pensamentos. Ou então que o sinal abrisse logo pra eu sair, afinal, estava atrasada. Sem sucesso! Acho que ela só desistiu depois que leu todas as chamadas da primeira página.
É aí que penso: Será que não fazemos isso em vários aspectos da nossa vida? A estratégia certa no lugar errado?
Ela estava no sinaleiro, tem poucos minutos de sinal vermelho (pra mim é uma eternidade) pra oferecer o produto dela para o maior número de pessoas. E ao invés disso, ela ficou na minha janela lendo o jornal. Aquilo não era o melhor lugar pra se fazer isso. Talvez até fosse boa a tentativa e alguma coisa me interessasse mas, jornal é jornal. Alguém atrás do meu carro poderia querer e ela perdeu todo o tempo dela comigo.
Será que não estamos tentando impressionar um amigo falando sobre informática quando o cara só quer saber de futebol? Ou impressionar o chefe com extrema qualidade quando o ele só quer prazos mais curtos?
Damos presentes caros aos filhos quando eles só querem atenção?

Na maioria das vezes a intenção é boa. Pode até vir a dar certo em algumas situações mas, a probabilidade de sucesso é muitíssimo maior com a estratégia certa no local certo, inclusive para as pessoas certas.

2 comentários:

  1. Gostei do texto. A transição entre um fato do quotidiano e a estratégia conduziu a uma boa reflexão.

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  2. Boa reflexão ... Mas se for o sinal da XV com a marquês você estava divagando no lugar errado, pois se não fosse a substituta, a jornaleira original iria te interromper. Aliás, essa aí sempre parece estar fazendo algo errado o tempo todo com qualquer pessoa...

    Com relação à vida, a coisa é bem simples: devemos usar a estratégia certa, na hora certa, no lugar certo e com as pessoas certas.
    A experiência de vida vai nos ensinar a dosar as combinações acima.

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